Pela primeira vez em 10 anos a Netflix perdeu assinantes, foram 970 mil assinaturas canceladas, o que levantou o debate se o conteúdo está matando o streaming. Mas, antes que este pareça um artigo alarmante do tipo que diz tal coisa vai acabar com o mundo. Calma, não é nada disso.

Os 970 mil assinantes perdidos pela Netflix estão dentro da perspectiva de 2 milhões de contas perdidas que a empresa projetou para o começo de 2022. 

A verdade é que os números não são tão assustadores assim, mas mostram um padrão de diferença de consumo. Aparentemente, a Netflix atingiu o seu patamar e agora precisa se virar para entrar algo que os clientes queiram consumir. 

O que é delicioso para os assuntos que nós gostamos de discutir aqui no Blog. Então vamos lá, vamos ver como a Netflix tem se virado nessa.

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Conteúdo x Netflix: a briga é boa, mas nem sempre foi assim

Você já deve saber que a Netflix nasceu como um serviço de locação de filmes em mídia física. Com a facilitação das entregas e o surgimento de diversas empresas de frete, a Netflix fez uso da mesma ferramenta que a Amazon.

Ou seja, ela barateou um serviço e facilitou a aquisição dos seus produtos. A Amazon investiu nos livros e a Netflix nos filmes por locação.

Entretanto, com a massificação da internet banda larga ao redor do mundo, ficou mais fácil para a Netflix transformar o modelo de negócios. Dando início ao que hoje chamamos de serviços de streaming. 

E aí é onde nasce parte do problema.

Netflix é um serviço de streaming, então entra na lógica da produção de conteúdo para redes sociais, Youtube, etc

Quem aí produz conteúdo para as redes sociais sabe a lógica do mercado: quanto mais, melhor. Os algoritmos estão sedentos por postagens, postagens, postagens, pois eles querem gerar a sensação de novidade dos usuários. 

Daí que a Netflix rapidamente enxergou este cenário e passou a fazer parte dele. Durante os anos de 2012 e 2018 a empresa produziu uma quantidade massiva de séries, filmes, documentários, animações, etc. Todos com a chancela Netflix.

Se nos anos 90 canais como Fox (um dos maiores dos EUA) e Warner, tinham um número de produções que dava para contar nas duas mãos. Hoje, uma produtora como a Netflix investe mais de 5 bilhões de dólares somente na geração de novas ideias e novos conteúdos. 

Ou seja, são séries que não acabam mais. Mas, e quem estará lá para assistí-las.

Agora vem a resposta para a pergunta título

Em vídeo publicado pelo canal Wisecrack podemos ver que a curva de absorção dos conteúdos da Netflix está caindo – o mesmo acontece com streamings similares.

O público, que aprendeu com as redes sociais a querer sempre mais, perdeu a sua capacidade de concentração. Publicações da Harvard Business School mostram que o adulto médio tem uma capacidade de concentração de apenas 4 minutos.

Este público não tem mais o perfil do público de 2012, 2013, períodos auge da Netflix. Hoje, ele divide a atenção entre o que está na tela da televisão e o que está na tela do celular.

Então, os streamings estão perdendo o apelo, e a guerra é até injusta

Tem mais, enxergando o sucesso de serviços como Netflix, outras produtoras estão começando os seus próprios portais online. Aumentando a gama de ofertas. Se antes você poderia assistir tranquilamente um filme da Disney em algum streaming, hoje você tem que assinar o específico da Disney, o mesmo serve para HBO e a tendência é que se repita na FOX, Warner, etc. etc. 

Já faz um tempo que os executivos da Netflix observaram essa tendência a mudança do comportamento de consumo dos seus assinantes. E estavam se preparando para quando este momento chegasse.

Qualidade do conteúdo x oferta de conteúdo

A Netflix acelerou seus resultados iniciais oferecendo uma assinatura barata por uma quantidade absurda de conteúdo. Tem mais, a empresa investiu pesado na elaboração de cada vez mais séries e filmes, se tornando uma máquina de fazer lançamos.

Agora, o público está cansado de mais do mesmo. Este público acabou viciado em novidades (graças ao impacto dos algoritmos nos nossos hábitos).

O que os serviços de streaming vão fazer é um mistério. As redes sociais dão pistas de que vão continuam investindo no binge watching – o consumo viciado, do tipo que exige pouco da mente. 

Vídeos cada vez mais curtos dominam os celulares dos jovens e hoje já é comum que pessoas escutam música em velocidade acelerada para ela acabar mais rápido.

Como os serviços de Streaming vão contornar essa situação e fazer esse assinante se concentrar em uma série de 40 minutos? Fica o mistério no ar.

Gostou da publicação de hoje? Então dá uma olhada nas minhas outras postagens. Se você gosta de discussões sobre criatividade, inovação, cultura geek e comportamento do público, este blog é para você.